terça-feira, 11 de junho de 2013

Metanoia, Mudança, Conversão = "voltar para Jesus"

Na atitude de escuta e acolhida da palavra revelada, Jesus continua o seu Caminho e nos ensina, convidando-nos a segui-lo. Muitos são os chamados, mas poucos são os escolhidos, pois não conseguem entender a proposta, ou não aceitam... Algumas pessoas, porém, vão além e reconhecem-no como o Messias, no partir do pão, ou simplesmente, no jeito próprio que ele conduz sua Missão (em suas palavras, gestos, atitudes), é o caso que lemos à seguir. Após percorrer muitos povoados e retirar-se, Jesus recolhe-se numa casa de família, em Betânia, e a história transcorre.



A moça do perfume

(Lucas 7,36-8,3)


Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes.

O texto desta citação supracitada deixa transparecer um aspecto do Novo que Jesus trouxe. Na sociedade e na religião do tempo de Jesus, as mulheres eram excluídas e discriminadas. Ao redor de Jesus, porém, homens e mulheres se reuniam em igualdade de condições. Durante a leitura do texto somos convidados a prestar atenção na seguinte questão: Qual atitude de Jesus para com as mulheres que aparecem no texto?

SITUANDO
No capítulo 7 do Evangelho de Lucas, Jesus continua abrindo o caminho, revelando o Novo. A transformação vai acontecendo. Jesus acolhe o pedido de um estrangeiro não judeu (Lucas 7,1-10) e ressuscita o filho de uma viúva (Lucas 7,11-17). A maneira de Jesus conceber o Reino surpreende cada vez mais aos irmãos judeus que não estavam acostumados com a abertura de Jesus. Até João Batista fica meio perdido e manda perguntar: "É o senhor ou devemos esperar por outro?" (Lucas 7,18-30). Jesus chega a denunciar a incoerência dos seus patrícios: "Vocês parecem crianças que não sabem o que querem!" (Lucas 7,31-35). E agora, aqui no nosso texto, outro aspecto do Novo começa a aparecer. É a atitude de Jesus para com as mulheres.
Na época do Novo Testamento, a mulher vivia marginalizada. Na sinagoga ela não participava, na vida pública não podia ser testemunha. Muitas mulheres, porém, resistiam contra a exclusão. Desde os tempos de Esdras, a resistência da mulher vinha crescendo, como transparece nas histórias de Judite, Ester, Rute, Noemi, Suzana, da Sulamita e de tantas outras. Esta resistência encontrou eco e acolhida em Jesus. No episódio da moça do perfume transparecem o inconformismo e a resistência das mulheres no dia-a-dia e o acolhimento que Jesus lhes dava.

COMENTANDO

1. Lucas 7,36-38: A situação que provocou o debate
Três pessoas totalmente diferentes se encontram: Jesus, o fariseu e a moça! Um fariseu era um judeu observante. Da moça se diz que era pecadora. Jesus está na casa de Simão, o fariseu que o convidou para o jantar. A moça entra, coloca-se aos pés de Jesus, começa a chorar, molha os pés de Jesus com as lágrimas, solta os cabelos para enxugá-los, beija e unge os pés com perfume. Soltar os cabelos em público era um gesto de independência. Jesus não se retrai nem afasta a moça, mas acolhe o gesto dela.

2. Lucas 7,39-40: A reação do fariseu e a resposta de Jesus
Jesus estava acolhendo uma pessoa que, conforme os judeus observantes, não podia ser acolhida. O fariseu, observando tudo,  critica Jesus e condena a mulher: "Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é esta que o toca, pois é uma pecadora". Jesus usa uma parábola para responder à provocação do fariseu. A parábola ajuda a perceber o invisível de Deus a partir da experiência que a pessoa tem da vida.


3. Lucas 7,41-43: A parábola dos dois devedores
Um devia 500 reais, o outro, 50. Nenhum dos dois tinha como pagar. Ambos foram perdoados. Qual dos dois terá mais amor? Resposta do fariseu: "Amará mais aquele a quem mais se perdoa!" A parábola supõe que os dois, tanto o fariseu como a moça, tinham recebido algum favor de Jesus. Na atitude que os dois tomam diante de Jesus, mostram como apreciam o favor recebido. O fariseu mostra o seu amor, a sua gratidão, convidando Jesus para o jantar. A moça mostra o seu amor, a sua gratidão, através das lágrimas, dos beijos e do perfume.

4. Lucas 7,44-47: O recado de Jesus para o fariseu
Depois de receber a resposta do fariseu, Jesus aplica a parábola. Mesmo estando na casa do fariseu, a convite do mesmo, ele não perde a liberdade de falar e de agir. Defende a moça contra a crítica do judeu praticante. O recado de Jesus para os fariseu de todos os tempos é este: "Aquele a quem pouco foi perdoado, mostra pouco amor!" O fariseu achava que não tinha pecado, porque observava em tudo a lei. A segurança pessoal que eu, fariseu, crio para mim pela observância das leis de Deus e da Igreja, muitas vezes me impede de experimentar a gratuidade do amor de Deus. O que importa não é a observância da lei em si, mas sim o amor com que observou a lei. E usando os símbolos do amor da moça, Jesus dá o troco ao fariseu que se considerava em paz com Deus: "Você não me deu água para lavar os pés, não me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão, apesar de todo o banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!"


5. Lucas 7,48-50: Palavra de Jesus para a moça
Jesus declara a moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te salvou! Vai em paz!"  Aqui transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E foi a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez renascer.


6. Lucas 8,1: Os doze que seguem Jesus
Numa única frase Jesus descreve a situação: Jesus anda por toda parte, pelos povoados e cidades da Galileia, anunciando a Boa Nova do Reino de Deus e os doze estão com ele. A expressão "seguir Jesus" (Marcos 15,41) indica a condição do discípulo que segue o Mestre, 24 horas por dia, procurando imitar o seu exemplo e participando do seu destino.

7. Lucas 8,2-3: As mulheres seguem Jesus
O surpreendente na atitude de Jesus é que, ao lado dos homens, há também mulheres "junto com Jesus". Lucas coloca os discípulos e as discípulas em pé de igualdade, pois ambos seguem Jesus. Ele também conservou os nomes de algumas destas discípulas:
- MARIA MADALENA, nascida na cidade de Magdala. Ela tinha sido curada de sete demônios;
- JOANA, mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas, que era governador da Galileia;
- SUZANA e várias outras. Delas se afirma que "seguem Jesus" (cf. Marcos 15,41) e que o "servem com seus bens".

ALARGANDO A COMPREENSÃO
O Evangelho de Lucas sempre foi considerado o Evangelho das mulheres. De fato, Lucas é o que traz o maior número de episódios em que se destaca o relacionamento de Jesus com as mulheres. Mas a novidade, a Boa Nova de Deus para as mulheres, não está só na abundante citação da presença delas ao redor de Jesus, mas sobretudo na atitude de Jesus em relação a elas. Jesus as toca e deixa-se tocar por elas sem medo de se contaminar. À diferença dos mestres da época, ele aceita mulheres como seguidoras e discípulas. A força libertadora de Deus, atuante em Jesus, faz a mulher se levantar e assumir sua dignidade. Jesus é sensível ao sofrimento da viúva e se solidariza com a sua dor. O trabalho da mulher preparando o alimento é visto por Jesus como sinal do Reino. A viúva persistente que luta por seus direitos é colocada como modelo de entrega e doação. Numa época em que o testemunho das mulheres não era aceito como válido, Jesus escolhe as mulheres como testemunhas da sua morte, sepultamento e ressurreição.

Nos evangelhos, conservam-se várias listas com os nomes dos 12 discípulos que seguiam Jesus. Havia também mulheres que seguiam Jesus, desde a Galileia até Jerusalém. O Evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras: seguir, servir, subir até Jerusalém. Os primeiros cristãos não chegaram a elaborar uma lista destas discípulas que seguiam Jesus como o fizeram com os homens. Mas os nomes de sete destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos evangelhos:
1. Maria Madalena (Lucas 8,3);
2. Joana, mulher de Cuza (Lucas 8,3);
3. Suzana (Lucas 8,3);
4. Salomé (Marcos 15,40);
5. Maria, mãe de Tiago (Marcos 15,40);
6. Maria, mulher de Clopas (João 19,25);
7. Maria, a mãe de Jesus (João 19,25).





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