Na atitude de escuta e acolhida da palavra revelada,
Jesus continua o seu Caminho e nos ensina, convidando-nos a segui-lo. Muitos
são os chamados, mas poucos são os escolhidos, pois não conseguem entender a
proposta, ou não aceitam... Algumas pessoas, porém, vão além e reconhecem-no como
o Messias, no partir do pão, ou simplesmente, no jeito próprio que ele conduz
sua Missão (em suas palavras, gestos, atitudes), é o caso que lemos à seguir.
Após percorrer muitos povoados e retirar-se, Jesus recolhe-se numa casa de
família, em Betânia, e a história transcorre.
A moça do
perfume
(Lucas 7,36-8,3)
Autores: Carlos Mesters e
Mercedes Lopes.
O texto desta citação supracitada deixa transparecer um
aspecto do Novo que Jesus trouxe. Na sociedade e na religião do tempo de Jesus,
as mulheres eram excluídas e discriminadas. Ao redor de Jesus, porém, homens e
mulheres se reuniam em igualdade de condições. Durante a leitura do texto somos
convidados a prestar atenção na seguinte questão: Qual atitude de Jesus para
com as mulheres que aparecem no texto?
SITUANDO
No capítulo 7 do
Evangelho de Lucas, Jesus continua abrindo o caminho, revelando o Novo. A
transformação vai acontecendo. Jesus acolhe o pedido de um estrangeiro não
judeu (Lucas
7,1-10)
e ressuscita o filho de uma viúva (Lucas 7,11-17). A maneira de
Jesus conceber o Reino surpreende cada vez mais aos irmãos judeus que não
estavam acostumados com a abertura de Jesus. Até João Batista fica meio perdido
e manda perguntar: "É o senhor ou devemos esperar por outro?" (Lucas 7,18-30). Jesus chega a
denunciar a incoerência dos seus patrícios: "Vocês parecem crianças que
não sabem o que querem!" (Lucas 7,31-35). E agora, aqui no nosso texto, outro
aspecto do Novo começa a aparecer. É a atitude de Jesus para com as mulheres.
Na época do Novo
Testamento, a mulher vivia marginalizada. Na sinagoga ela não participava, na
vida pública não podia ser testemunha. Muitas mulheres, porém, resistiam contra
a exclusão. Desde os tempos de Esdras, a resistência da mulher vinha crescendo,
como transparece nas histórias de Judite, Ester, Rute, Noemi, Suzana, da
Sulamita e de tantas outras. Esta resistência encontrou eco e acolhida em
Jesus. No episódio da moça do perfume transparecem o inconformismo e a
resistência das mulheres no dia-a-dia e o acolhimento que Jesus lhes dava.
COMENTANDO
1. Lucas 7,36-38: A situação que provocou o debate
Três pessoas
totalmente diferentes se encontram: Jesus, o fariseu e a moça! Um fariseu era
um judeu observante. Da moça se diz que era pecadora. Jesus está na casa de
Simão, o fariseu que o convidou para o jantar. A moça entra, coloca-se aos pés
de Jesus, começa a chorar, molha os pés de Jesus com as lágrimas, solta os
cabelos para enxugá-los, beija e unge os pés com perfume. Soltar os cabelos em
público era um gesto de independência. Jesus não se retrai nem afasta a moça,
mas acolhe o gesto dela.
2. Lucas 7,39-40: A reação do fariseu e a resposta de Jesus
Jesus estava
acolhendo uma pessoa que, conforme os judeus observantes, não podia ser
acolhida. O fariseu, observando tudo, critica Jesus e condena a mulher:
"Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é esta que o
toca, pois é uma pecadora". Jesus usa uma parábola para responder à
provocação do fariseu. A parábola ajuda a perceber o invisível de Deus a partir
da experiência que a pessoa tem da vida.
3. Lucas 7,41-43: A parábola dos dois devedores
Um devia 500 reais,
o outro, 50. Nenhum dos dois tinha como pagar. Ambos foram perdoados. Qual dos
dois terá mais amor? Resposta do fariseu: "Amará mais aquele a quem mais
se perdoa!" A parábola supõe que os dois, tanto o fariseu como a moça,
tinham recebido algum favor de Jesus. Na atitude que os dois tomam diante de
Jesus, mostram como apreciam o favor recebido. O fariseu mostra o seu amor, a
sua gratidão, convidando Jesus para o jantar. A moça mostra o seu amor, a sua
gratidão, através das lágrimas, dos beijos e do perfume.
4. Lucas 7,44-47: O recado de Jesus para o fariseu
Depois de receber a
resposta do fariseu, Jesus aplica a parábola. Mesmo estando na casa do fariseu,
a convite do mesmo, ele não perde a liberdade de falar e de agir. Defende a
moça contra a crítica do judeu praticante. O recado de Jesus para os fariseu de
todos os tempos é este: "Aquele a quem pouco foi perdoado, mostra pouco
amor!" O fariseu achava que não tinha pecado, porque observava em tudo a
lei. A segurança pessoal que eu, fariseu, crio para mim pela observância das
leis de Deus e da Igreja, muitas vezes me impede de experimentar a gratuidade
do amor de Deus. O que importa não é a observância da lei em si, mas sim o amor
com que observou a lei. E usando os símbolos do amor da moça, Jesus dá o troco
ao fariseu que se considerava em paz com Deus: "Você não me deu água para
lavar os pés, não me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão,
apesar de todo o banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!"
5. Lucas 7,48-50: Palavra de Jesus para a moça
Jesus declara a
moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te salvou! Vai em paz!"
Aqui transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E
foi a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com
Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez
renascer.
6. Lucas 8,1: Os doze que seguem Jesus
Numa única frase
Jesus descreve a situação: Jesus anda por toda parte, pelos povoados e cidades
da Galileia, anunciando a Boa Nova do Reino de Deus e os doze estão com ele. A
expressão "seguir Jesus" (Marcos 15,41) indica a condição
do discípulo que segue o Mestre, 24 horas por dia, procurando imitar o seu exemplo
e participando do seu destino.
7. Lucas 8,2-3: As mulheres seguem Jesus
O surpreendente na
atitude de Jesus é que, ao lado dos homens, há também mulheres "junto com
Jesus". Lucas coloca os discípulos e as discípulas em pé de igualdade,
pois ambos seguem Jesus. Ele também conservou os nomes de algumas destas
discípulas:
- MARIA
MADALENA, nascida na cidade de Magdala. Ela tinha sido curada de sete demônios;
- JOANA,
mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas, que era governador da Galileia;
- SUZANA e
várias outras. Delas se afirma que "seguem Jesus" (cf. Marcos 15,41) e que o
"servem com seus bens".
ALARGANDO A COMPREENSÃO
O Evangelho de
Lucas sempre foi considerado o Evangelho das mulheres. De fato, Lucas é o que
traz o maior número de episódios em que se destaca o relacionamento de Jesus
com as mulheres. Mas a novidade, a Boa Nova de Deus para as mulheres, não
está só na abundante citação da presença delas ao redor de Jesus, mas
sobretudo na atitude de Jesus em relação a elas. Jesus as toca e deixa-se tocar
por elas sem medo de se contaminar. À diferença dos mestres da época, ele
aceita mulheres como seguidoras e discípulas. A força libertadora de Deus,
atuante em Jesus, faz a mulher se levantar e assumir sua dignidade. Jesus é
sensível ao sofrimento da viúva e se solidariza com a sua dor. O trabalho da
mulher preparando o alimento é visto por Jesus como sinal do Reino. A viúva
persistente que luta por seus direitos é colocada como modelo de entrega e
doação. Numa época em que o testemunho das mulheres não era aceito como válido,
Jesus escolhe as mulheres como testemunhas da sua morte, sepultamento e
ressurreição.
Nos evangelhos,
conservam-se várias listas com os nomes dos 12 discípulos que seguiam Jesus.
Havia também mulheres que seguiam Jesus, desde a Galileia até Jerusalém. O
Evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras: seguir, servir,
subir até Jerusalém. Os primeiros cristãos não chegaram a elaborar uma lista
destas discípulas que seguiam Jesus como o fizeram com os homens. Mas os nomes
de sete destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos evangelhos:
1. Maria Madalena (Lucas 8,3);
2. Joana, mulher de
Cuza (Lucas
8,3);
3. Suzana (Lucas 8,3);
4. Salomé (Marcos 15,40);
5. Maria, mãe de
Tiago (Marcos
15,40);
6. Maria, mulher de
Clopas (João
19,25);
7. Maria, a mãe de
Jesus (João
19,25).
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